sábado, 14 de fevereiro de 2009

A Pipa

Nosso amor era uma pipa no céu. Céu claro, limpo sem nuvens, vento sempre a favor, lá no alto, inatingível. Daqui de baixo ficamos cuidando, cuidando de nós mesmos, sem ligar para ela lá em cima. Nos distraímos com sonhos, gozos, fantasias, sentimentos, que não sabíamos o que eram. Erramos, imaturos (confesso que ainda sou). Nos distraímos, narcizistamente. Nos distraímos um procurando no olhar do outro, aquilo que idealizamos, aquilo que fantasiamos que existia. Lá, bem alto; aqui, tão oco.
Sorrisos eram vistos, juras foram trocadas, inexperientes não sabíamos que se da nossa parte era eram verdadeiras. De vez em quando sem muita atenção olhávamos lá pro alto, mas logo virávamos chamados por coisas banais.
Mãos acariciavam um ao outro idealizando um par perfeito. Mentes ao mesmo tempo procuravam outro, não queríamos nós mesmos. Tínhamos um ao outro como refúgio simplesmente, não aquele refúgio como quando há amor, uma rota de fuga.
Nas noites frias tínhamos um ao outra para esquentar o corpo. Mas a pipa lá no alto, ou o coração aqui dentro, continuava com frio. Juntos somente por prazer? Creio que não era, era mais que um toque. Imaturos não sabíamos identificar, não sabíamos o significado daqueles sentimentos, éramos crianças mas mesmo agora mulher, ainda não sei ao certo o que era. Será que continuo imatura?
Inatingível. Tão inatingível que nós mesmos, creio que desistimos de tentar atingir, ou de renovar aquele sentimento, lindo-oco-desconhecido. O tempo ia passando, sol, chuva, chuva, vento, frio, a natureza. Ah a natureza, esquecemos dela, esquecemos do amor, da pipa, acho que esquecemos de nós mesmos, tão preocupados com nós, que esquecemos de nós. Risos, lágrimas, palavras, olhares, tudo levantou vôo com a pipa. Pipa, que pipa? Quando nos demos conta, quando lembramos de cuidar dela, ela não estava mais lá. Talvez foi o vento que a levou ou ela se desmanchou com as forças da natureza, ou até nós mesmos, cegos por uma cegueira desconhecida, fomos lá e cortamos a linha e deixamos ela livre. Não sabemos ao certo o que foi, só sabemos que a culpa foi nossa, sabemos que nós, nos deixamos livres para amar novamente.

3 comentários:

  1. Oie Ave rara, paz !

    Deixou contigo um trecho de Max Lucado que falou muito ao meu íntimo.

    "Nosso amor mais belo é uma aquarela pré-escolar do Rembrandt de Deus, um dente de leão ao lado da rosa do seu jardim. Seu amor continua forte como uma sequóia; nossas melhores tentativas dobram-se como salgueiros-chorôes".

    Abraços e beijinhos perfumadinhos.

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  2. Ave rara, deixei um recadinho lá no meu espaço nos comentário pra ti.

    bjs milll

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  3. Oie ave rara, pode sim, sem problema.

    Beijinhos perfumadinhos no seu coração.

    Pazzzz

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