quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Eu sei voar


Já era manhã,e em silêncio ,mas bem dançante ela abriu a porta.Pisando leve, parecia flutuar,segurando risadas caminhava até seu quarto.
_Isso são horas?
Descoberta.Com cara e gestos de criança quando apronta e é descoberta,pega no flagra,assustada e tranqüila ela sorriu.
_Bom dia papai. –disse ironicamente.
Seu pai, um jovem senhor de cabelos grisalhos,aparência rude,do qual deixava-o mais velho.Vestia um pijama de moletom e um velho chinelo,óculos e rugas no rosto,aparência mórbida,fúnebre.
_E esse cheiro insuportável de cigarro?Anda bebendo,fumando e o que mais?Olhe suas roupas.
_Dançando-disse ela demonstrando como.
Aquele rosto rude se fechou mais ainda.E quando Angélica.apos ter mandado um beijinho,se dirigia ao quarto,seu refugio,ele continuou.
_Uma vadia como a mãe.Ela adorava se mostrar para os homens com roupas insinuantes.Sempre bebendo,sempre fumando.uma perfeita vadia e você esta indo no mesmo caminho.
_Não fale assim da minha mãe – disse Angélica virando-se rapidamente,com os olhos rubros de tanta fúria –Ela não era uma vadia,ela era jovem,linda,viva,não como você um morto velho e doente.E sim os homens a olhavam ,desejavam ,ela era linda.Só tinha um defeito,ela o amava.
_Amava?Que tipo de amor era esse?Saia com vários homens,não dava a mínima para mim.Nem para você,quando era bebe eu tinha que cuidar de você enquanto ela ia se divertir.
_Ela mo amava – gritou ,com lagrimas escorrendo pelo rosto vermelho,pois de tão branca quando chorava ficava vermelha – Ela o amava,ao contrário de você .E eu,eu te odeio.
_Cala a boca menina.Ela nunca ligou para você.Tinha você somente como um troféu,para assim posar de boa mãe,boa esposa,mas no findo ela nunca te amou.
_Amou sim.eu poderia ser um troféu pois ela merecia,uma boa mãe,uma boa esp...
_Nem ouse terminar essa frase,sua vadia –disse o pai nervoso,o clima pesado que estava lá dentro era o oposto do lado de fora.Lá havia sol,luz,alegria,lá dentro era noite,noite chuvosa,uma tempestade banhando tudo de ódio –Você não sabe de nada.
_Sei sim,seu velho imundo.Sei que foi você quem a matou.
_eu não a matei,ela se jogou daquela ponte,ela era doente,dizia que podia voar.
_Doente é você.Você a matou,a trancafiou nesse seu mundo sórdido.Você a impedia de ver o sol, não a deixava ser quem era,a proibiu de sair,a proibiu de viver.Você a convenceu de que era louca,dopando-a,matando-a aos poucos,internando-a em clinicas,falando aos quatro ventos que ela era louca,sendo que o único louco e doente é você.
Ele enfiou a mão no rosto dela e o barulho do tapa ecoou no corredor.Naquele rosto delicado a marca daquela mão pesada e no coração a marca do ódio que sentia e da falta que sente de sua mãe.
Chorando ela cuspiu nele.
_Covarde,doente,você deveria estar naquele caixão no lugar dela.
Correndo ela entrou em seu quarto e trancou a porta.Estava segura.Seu quarto era como um quarto de toda menina da sua idade,com retratos da mãe por ele todo e fotos de ídolos.Num canto havia uma velha guitarra,companheira de farra,sua cama era impecável,pelo chão haviam sapatos de longos saltos espalhados,pelo tapete ursos de pelúcia, em cima da penteadeira um crânio de gesso enfeitado com um lindo laçinho vermelho,alem de suas maquiagens perfeitamente arrumadas,como as de sua mãe.Entrando nervosa,sentou-se no chão com as mãos no joelho,balançava-se,sorria,chorava,gritava,sussurrava palavras do qual n~o se entendia.
Levantou-se e começou a andar em círculos pelo quarto,atordoada.
_Eu quero ser que nem ela.Não,eu sou que nem ela – ria e chorava ao mesmo tempo – Ambas queríamos voar,somos iguais,olhos,cabelo,ate essa pintinha –apontou para sua pinta no pescoço- Mãe,eu vou voar também,você conseguiu,eu também vou conseguir.
E continuou a rodar pelo quarto.De vez em quando abria uma gaveta e pegava uns comprimidos,que engolia a seco mesmo.E desse jeito,rindo,chorando,sussurrando,as vezes sentada em um canto.outras rodando,outras deitada,ela passou a tarde inteira
_Mãe eu vou voar como você.eu vou voar para você.
E assim já era noite,ela abriu o guarda-roupa,pegou seu vestido favorito,um sapato,pegou também o laçinho do crânio que havia na penteadeira e colocou no cabelo,maquiou-se,perfumou-se, e saiu de seu refúgio .abriu a porta do quarto de seu pai.
_Adeus,velho ranzinza,eu vou voar,eu posso voar.
E saiu pelas ruas,bailando,rodando de braços abertos,como se aquele terrível barulho de carros,cães,pessoas pelas ruas,fossem uma bela sinfonia.De repente em cima de uma ponte ela parou e sorriu um doce e maligno sorriso.Olhando para baixo nas pontas dos pés,ela disse:
_Mãe não é só você que pode voar.
De olhos fechados,com o vento em seu rosto e cabelos,sorriu e gritou:
_Mãe!Mãe!Olha eu também sei voar!
E voou...

2 comentários:

  1. Kaah, por favor, nunca mais fala que não escreve bem...
    Você tem um dom menina! :D

    (e eu uma pintinha xD)

    Te amo s2

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  2. Olá, estou cá no seu blog pela 1ª vez, e gostei mto do q li, mas "eu sei voar" teve um significado especial. AMEI
    Já estou como seguidor do seu blog e prometo voltar mais vezes
    Se gosta de pintura visite o meu blog
    www.joaomiguel sena.blogspot.com

    João Sena - Portugal

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